Conheça as PANCs, plantas alimentícias não-convencionais
Fontes de nutrientes, as PANCs estão em alta e podem ser boas aliadas para uma alimentação à base de plantas mais saborosa e saudável
Você sabia que existe uma variedade muito maior de plantas disponíveis para consumo do que geralmente conhecemos por aí? Por definição, as PANCs (plantas alimentícias não-convencionais) são frutas, folhas, flores, rizomas (caule subterrâneo), sementes e outras partes de plantas que podem ser consumidas tanto in natura quanto após algum preparo culinário.
O termo inclui plantas não-convencionais propriamente ditas e também partes não-convencionais de plantas comuns. Folhas de vegetais que costumam estar presentes na nossa alimentação, como cenoura, beterraba e brócolis também podem – e devem – ser aproveitadas, pois rendem ótimos pratos. Experimente refogar, empanar e fritar ou assar estas, que costumam ser descartadas antes mesmo de chegar às prateleiras.
Para enriquecer ainda mais o paladar e aumentar as possibilidades de uma alimentação à base de plantas, o Love Veg apresenta a seguir algumas das PANCs mais conhecidas e como elas podem ser incorporadas no cardápio, com receitas acessíveis e saborosas!
Peixinho (Stachys byzantina)
Também conhecido como peixinho-da-horta, é mais comum nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Suas folhas são aromáticas e compridas. Possuem uma textura “peluda” e devido ao formato, pode ser chamada também de orelha-de-lebre.
A planta vem se popularizando e pode ser consumida em diversos preparos culinários. Além do formato, há quem diga que o sabor também lembra o peixe, mais semelhantes às algas marinhas. A principal forma de preparo é empanar e fritar as folhas, que ficam crocantes e saborosas e podem servir como acompanhamento ou petisco. Também pode ser picada e utilizada em receitas de tempurá ou grãomelete, por exemplo.
Peixinho empanado
Ingredientes:
Folhas de peixinho
Amido de milho
Sal
Farinha de rosca
Azeite ou óleo
Temperos a gosto
Modo de preparo:
- Faça uma mistura de água, amido de milho e sal até ficar um líquido espesso, mas não tão espesso a ponto de pesar nas folhas, só o suficiente para umedecê-las para poder colar a farinha de rosca.
- Depois de fazer o líquido, coloque as folhas lavadas e secas na farinha de rosca, que pode ser temperada com sal e especiarias, como pimentas, páprica ou açafrão.
- Frite no óleo ou no azeite raso até dourarem e colocar para secar no papel toalha.
Taioba (Xanthosoma taioba)
Planta de folha grande e robusta com altura entre 50cm e 90cm nativa de Minas Gerais. É bastante utilizada no interior de alguns estados brasileiros, principalmente na região sudeste.
Tanto as folhas como os talos são utilizados e consumo deve ser feito sempre da planta cozida. Geralmente as folhas são refogadas junto do caule e podem servir de acompanhamento ou ainda usadas como recheio de tortas e salgados. As rizomas podem ser cozidas, fritas e até virar purê.
Taioba Refogada*
Ingredientes:
1 maço de taioba
1 colher (sopa) de óleo ou azeite
Sal e pimenta do reino a gosto
1 dente de alho picado
Cebolinha verde picada
1 cebola média cortada em rodelas
Caldo de ½ limão
Modo de preparo:
1. Lave bem a taioba, folha por folha. Rasgue as folhas em pedacinhos, entre os veios, e lave novamente.
2. Numa panela coloque o óleo, o sal, o alho e a cebolinha verde. Leve ao fogo.
3. Quando estiver quente, acrescente a taioba para refogar, sem tampar a panela, por cerca de 5 minutos, mexendo sempre, ou até que a taioba esteja macia. Se desejar, adicione pimenta.
4. À parte, misture as rodelas de cebola e o caldo de limão. Derrame sobre a taioba depois que ela estiver pronta.
*Receita retirada do site da Embrapa.
Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)
Planta nativa brasileira encontrada nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Raramente é cultivada comercialmente. Em Minas Gerais, estado onde é mais comum na culinária, costuma ser encontrada facilmente nos quintais e hortas. Rica em proteína, pode ser consumida tanto crua quanto cozida.
Angu com creme de Ora-pro-nóbis*
Ingredientes:
Creme
200g de ora-pro-nóbis
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Água e caldo de legumes
Angu:
250g de farinha de fubá
2L de caldo de legumes (pode ser feito com sobras de talos e cascas de legumes)
20g de cebola picada
20g de alho picadinho
60ml de azeite
Sal de pimenta a gosto
Modo de preparo:
- Ferva um litro de água sem adição de sal. Após a fervura, adicione somente as folhas bem limpas, sem o talo, de ora-pro-nóbis. Deixe por aproximadamente um minuto.
- Transfira as folhas de ora-pro-nóbis para o liquidificador e bata com um pouco de caldo de legumes, sal e pimenta a gosto até que a mistura fique cremosa. Reserve o creme.
- Em uma panela funda, no fogo médio, coloque o azeite, a cebola e o alho e refogue até a cebola ficar transparente.
- Adicione um litro de caldo de legumes bem quente e aos poucos coloque a farinha de fubá. Mexa constantemente até ficar bem cremoso. Abaixe o fogo e tempere com sal e pimenta.
- Pincele um prato fundo com o creme de ora-pró-nobis e em seguida coloque o angu.
*Receita adaptada da versão publicada no caderno Paladar.
Beldroega (Portulaca aleracea)
Planta nativa provavelmente do Norte da África e mais comum em Portugal, também é encontrada no Brasil. Utilizada como alimento desde a antiguidade, a planta é considerada muitas vezes uma erva daninha. Aromática, pode ser consumida cozida ou crua, principalmente em saladas, picles (especialmente os talos), aromatizando molhos e azeites, bolinhos e sanduíches. Antioxidante, é rica em ômega 3 e vitaminas B e C.
Salada de beldroegas com tomate e cebola*
Ingredientes:
200g de beldroegas
2 tomates cortados em cubos
1 cebola cortada em cubos
1 limão
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de preparo:
- Retire as folhas e pique os caules da beldroega.
- Em um recipiente, misture a beldroega com os tomates e a cebola cortada.
- Tempere com sal, pimenta e o suco do limão.
* Receita adaptada da versão do blog português Cinco quartos de laranja.
Capuchinha (Tropaeolum majus)
Nativa de regiões montanhosas da América Latina, como Peru e México, é amplamente cultivada por aqui para fins ornamentais. Tanto as folhas como as flores, frutos, sementes e ramos são comestíveis. As flores são muito usadas para decoração dos pratos.
As folhas jovens têm sabor acentuado e picante, que lembra agrião e rúcula. Podem ser usadas em frescas em saladas e acompanhando pratos. Também podem ser cozidas com outros vegetais, usadas em patês, pães, sopas, etc
Azedinha (Rumex acetosa)
Originária da Europa e Norte da Ásia, foi consumida por gregos, romanos e egípcios e até hoje é comercializada por lá. No Brasil cresce ocasionalmente em hortas domésticas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
Como diz o nome, o sabor residual das folhas é azedo e lembra o limão. É consumida principalmente crua, em saladas, preservando seu frescor e característica principal de sabor, mas também pode ser refogada ou utilizada em pratos cozidos como sopas e purês. Pode ainda ser ingrediente de sucos verdes. As folhas geralmente são verdes mas existem variedades com tons próximos do rosa/roxo.
Salada de azedinha e capuchinha*
Ingredientes:
Salada
1 maço de azedinha
1 maço de rúcula
Capuchinha a gosto
1 punhado de amêndoas em lâminas torradas na hora (opcional)
1 pimenta dedo de moça
Molho:
3 colheres de sopa de azeite
3 colheres de sopa de limão
3 colheres de coentro picado ou salsinha
1 pitada de sal marinho
Modo de Preparo:
- Coloque todos os ingredientes do molho numa tigela e misture vigorosamente.
- Jogue sobre a azedinha e a rúcula e mexa levemente.
- Acrescente as amêndoas ainda quentes.
- Pique a pimenta dedo de moça e coloque na salada.
- Para o toque final, coloque algumas flores de capuchinha e sirva em seguida.
* Receita adaptada do blog da Bela Gil.
Serralha (Sonchus oleraceus)
Conhecida também como chicória-brava, é comum nas regiões Sul e Sudeste, mais especificamente na região serrana do RJ. Muitas vezes considerada uma erva “daninha”, a planta é remédio e alimento. Todas as suas partes (folhas, caules, etc) podem ser consumidas na forma crua ou cozida e o sabor lembra o espinafre. Os caules podem ser usados para conservas e as flores empanadas e fritas.
Patê de serralha
Ingredientes:
100 g de serralha
100 g de resíduos de leite vegetal, preferencialmente amendoim
2 dentes de alho
½ cebola
6 colheres de azeite
sal a gosto
Modo de preparo:
- Lave a serralha e pique a cebola e o alho;
- Coloque todos os ingredientes no processador (ou liquidificador);
- Acerte o tempero. Também pode levar especiarias a gosto, como pimenta-do-reino ou cúrcuma.
Coração de bananeira (Musa paradisiaca)
A bananeira é uma espécie convencional, no entanto várias de suas partes são comestíveis e não são consideradas convencionais. Antes de formar o cacho, por exemplo, a bananeira forma um pseudocaule, de onde pode se retirar uma espécie de “palmito” e consumir, cozido ou processado. As folhas são usadas para envolver outros alimentos e o chamado coração, mangará ou umbigo de bananeira, ainda é pouco consumido. De sabor levemente amargo, ao ser cozido pode virar saladas mornas, acompanhamentos e recheio de diversos pratos, como pastéis, sanduíches e tortas.
Coração de banana refogado*
Ingredientes:
1 coração de bananeira
1 limão tahiti
2 colheres (chá) de bicarbonato de sódio
Refogado:
1 dente de alho grande picado
1 cebola picada
1 tomate médio bem maduro picado
1 miolo de coração de bananeira cozido
1 colher (de sopa) de salsinha picada
Sal a gosto
Pimenta do reino a gosto
Azeite a gosto
Modo de preparo:
- Para preparar o coração de bananeira, retire as folhas até chegar ao miolo, que é bem branquinho. As flores também podem ser utilizadas nesse momento, mas são um pouco mais amargas.
- Em uma vasilha, coloque 1 litro de água, o suco do limão e uma colher de chá de bicarbonato de sódio. Misture e reserve.
- Pique o miolo em rodelas e as flores em fatias e coloque na mistura de água. Logo que começar a cortar, notará que estas rodelas vão ficando escuras. Deixar de molho ajudará a não escurecer tanto. Deixe por 10 minutos.
- Enquanto isso, coloque 1 litro de água para ferver junto com uma colher de chá de bicarbonato.
- Passados os 10 minutos, escorra o miolo e as flores, lave e coloque na água quente. Deixe cozinhar até amolecer.
Para o refogado:
- Coloque em uma panela, em fogo médio, um fio de óleo e refogue o alho e a cebola até ficarem levemente dourados.
- Acrescente o tomate e deixe cozinhar até ele ficar bem derretido.
- Adicione o miolo e as flores e tempere com sal e pimenta,. Regue com um fio de azeite e misture. Finalizei com salsinha picada.
* Essa receita foi adaptada da versão do blog Presunto Vegetariano.
Com colaboração de Guilherme Petro
Jornalista, cozinheiro e professor de culinária, é co-autor do Prato Firmeza – Guia Gastronômico das Quebradas e cria conteúdos sobre alimentação consciente e acessível.
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