Escolas do Nordeste são pioneiras na alimentação à base de vegetais
Conheça os casos de escolas que adotaram totalmente as plantas como base da alimentação na Bahia e em João Pessoa
João Pessoa, na Paraíba, sedia a primeira escola vegana do Brasil: a Escola Nativa funciona desde março de 2018 e foi fundada por pessoas que já eram ativistas da causa animal e sentiam falta do tema no currículo das escolas tradicionais.
Voltada para o ensino infantil, a escola trabalha com crianças entre 1 e 5 anos de idade no ensino regular e até os 10 anos em atividades extracurriculares, como oficinas de capoeira, permacultura, aulas de natação, yoga e colônia de férias. Entre os seus diferenciais, está uma metodologia voltada para construção do conhecimento em conjunto, o estímulo ao desenvolvimento da autonomia da criança e o contato com a natureza, que ensina a formar seres humanos melhores.
“Buscamos construir uma escola cuja filosofia estivesse baseada na centralidade de todos os tipos de vida, uma visão biocêntrica”, conta a diretora Rayssa. “No entanto, nenhuma de nós era pedagoga ou professora, então buscamos algumas outras pessoas para compor a equipe e referências pedagógicas que fizessem sentido para fomentar a proteção animal e a valorização do meio ambiente”.
A equipe desenvolveu uma metodologia pedagógica que tem como base a visão libertária do veganismo, que considera os animais de forma respeitosa, sem nenhum tipo de exploração. O cuidado vai desde o conteúdo passado até a alimentação, à base de plantas e que busca o máximo de inclusão para as diversas necessidades alimentares, com um cardápio feito por uma nutricionista especializada.
O resultado é visto nas crianças, que conseguem trabalhar vários aspectos do desenvolvimento infantil mais livremente, sempre acompanhados de respeito e responsabilidade com o espaço, o material e com o outro, seja ele humano ou não. “São coisas que parecem pequenas mas, se trabalhadas diariamente, irão gerar mais diferença no futuro: teremos adultos que sabem seu impacto no planeta, na vida dos outros animais e dos outros seres humanos”, afirma Rayssa.
A Nativa acredita que a educação caminha com a luta em defesa do meio-ambiente e de uma vida digna para todos os seres, e sua atuação também extrapola as fronteiras do próprio espaço, com projetos e articulações com ONGs e grupos de ativistas por uma educação e um veganismo populares. E, como toda proposta inovadora, a escola está em crescimento, mas também ainda encontra alguma resistência por parte de algumas famílias. No entanto, o próximo plano é fazer um trabalho forte de divulgação para alcançar mais famílias que não se sentem contempladas com as diretrizes tradicionais de ensino.
Já na Bahia, o Ministério Público do estado, inspirado pela campanha Segunda Sem Carne, desenvolveu o programa Escola Sustentável, com o objetivo de promover a melhoria da alimentação escolar nos municípios de Biritinga, Serrinha, Barrocas e Teofilândia, no nordeste do estado. O programa abrange 30 mil estudantes de 137 unidades escolares, da educação infantil ao programa Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Implantado no início de 2018, a cada semestre teve redução de 25% dos alimentos com proteína animal. A previsão é de que até o final de 2019 todo o cardápio da merenda escolar nestas cidades estejam sem proteína animal, o que marca a primeira vez na história que qualquer escola pública tenha se comprometido a ter refeições exclusivamente baseadas em vegetais, produzidos pela agricultura familiar. Segundo a Humane Society International, organização que cooperou com o projeto, A mudança afeta mais de 23 milhões de refeições por ano.
Ao todo, cerca de 30 mil alunos são afetados pela mudança, que retira especialmente a carne, o leite e os ovos da merenda. Além disso, o impacto vai muito além da mesa, com a implantação de hortas escolares, educação humanitária, reformas das cozinhas e ações para capacitação de 450 merendeiras das cidades envolvidas.
Com a missão é melhorar a saúde dos alunos, reduzir a pegada ambiental das cidades (especialmente o consumo de água) e capacitar os agricultores locais, o programa recentemente foi selecionado para apresentação no evento mundial de saúde ‘The 2019 Planetary Healthy’, que ocorrerá em setembro, na Universidade de Stanford, na Califórnia, Estados Unidos. Um resumo do programa também será publicado na revista científica ‘The Lancet Planetary Healthy’, que tem foco no desenvolvimento de soluções para agentes políticos, econômicos, sociais e ambientais.
É importante ressaltar que uma alimentação livre de produtos de origem animal traz diversos benefícios para a saúde e o bem-estar do corpo, dos animais e do planeta. O próprio Guia Alimentar da População Brasileira tem conteúdos específicos a respeito do assunto. Segundo o guia, “a opção por vários tipos de alimentos de origem vegetal e pelo limitado consumo de alimentos de origem animal implica indiretamente a opção por um sistema alimentar socialmente mais justo e menos estressante para o ambiente físico, para os animais e para a biodiversidade em geral.”
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