GrajaVeg, o grupo que está repensando a alimentação nas periferias da Zona Sul de São Paulo
Por uma quebrada saudável, ética e sustentável, moradores da Zona Sul de São Paulo estão se articulando para promover conscientização e mudança de hábitos
Bairro mais populoso da cidade de São Paulo, com pouco mais de meio milhão de habitantes, o Grajaú é bem conhecido por ser o berço de diversos artistas da cena cultural periférica da cidade, nas mais diferentes áreas. Da música ao grafite, da comida à poesia, de lá saem nomes que extrapolam os limites territoriais da Zona Sul e se espalham por toda a cidade.
Apesar da riqueza de produção cultural, o bairro também sofre com alguns dos problemas comuns às periferias paulistanas, como a dificuldade de acesso à cultura e a falta de acesso a uma alimentação plena. E, se por um lado, estamos vivendo um momento de boom, onde o número de estabelecimentos especializados em comida vegana cresce na cidade, por outro, boa parte da população ainda não está geograficamente nem financeiramente perto de frequentar esses lugares.
Neste cenário, como falar sobre uma alimentação livre de produtos de origem animal em regiões que encontram dificuldades de acesso a alimentos básicos para sobrevivência, e em que a população, que trabalha majoritariamente nas regiões mais centrais, passa boa parte do tempo se deslocando no transporte público, e não tem tempo de cozinhar a própria comida?
Pensando em todas essas questões, o marceneiro Hugo Teodoro decidiu criar uma página no Instagram, em julho de 2019. Seguindo a linha de outras páginas, como Vegano Periférico, o GrajaVeg fala, com um recorte de classe e região, sobre como o veganismo pode ser simples e acessível se o conhecimento chegar a todo mundo. É possível comer bem gastando pouco e fazendo o simples, sem se tornar “refém” da indústria de alimentos ultraprocessados.
“Quando parei de comer produtos de origem animal, me sentia um alien, pois não tinha com quem compartilhar esse estilo de vida, e ao mesmo tempo percebi estava com dificuldades para falar sobre o assunto de uma forma convidativa para as pessoas próximas a mim”, conta Hugo. “Foi então que decidi criar a página, para reunir outras pessoas da região que estivessem em uma situação parecida com a minha, e trocar melhor as experiências”.
Em pouco mais de um mês, a página já contava com mais de 1200 seguidores, e foi além: originou um grupo no Whatsapp onde as pessoas podem trocar informações em tempo real. Aberto e ativo, o grupo já tem mais de 100 participantes, que passam o dia trocando informações sobre lugares para comprar produtos, dicas de preparo e até encomendas de doces e salgados.
Todas as pessoas que entram no grupo se apresentam e falam da sua relação com o movimento de liberdade animal e como é sua alimentação e todo dia tem uma conversa diferente sobre usos de ingredientes e adaptações de receitas para uma alimentação mais compassiva. É interessante notar que uma boa parte dos integrantes do grupo não é sequer vegetariana, mas, ao conhecer o perfil nas redes sociais, se interessaram pelo assunto.
Mesmo com pouco tempo, o grupo já até ultrapassou a barreira virtual e organizou o primeiro piquenique GrajaVeg, que aconteceu no início de agosto, na Praça Parque das Árvores, no Grajaú. O Frugnic, como foi apelidado, vem do frugivorismo, vertente alimentar em que se ingere apenas frutas, verduras e legumes, e veio com essa proposta para incentivar os participantes a levarem apenas esse tipo de alimento, buscando uma alimentação mais simples e natural.
Com muita música e uma toalha pra lá de colorida, cheia de frutas de todo tipo, o encontro teve um público de aproximadamente 15 pessoas, todas moradoras da Zona Sul, que trocaram muitas figurinhas e a certeza de que não estão sozinhas nessa luta, seja na escala global ou na regional. Depois desse sucesso todo, a rede do GrajaVeg só cresce, e o plano agora, além de outros encontros, é organizar uma feira, juntando todo mundo que vende comidinhas livres de origem animal na região.
Articulação local e trabalho de base e educação alimentar acontecendo ao vivo e nas bordas da cidade, nos resta acompanhar para ver os frutos que irão nascer, e disso a galera entende.
Gostou? Então segue lá em: https://www.instagram.com/grajaveg/ e aproveite para entrar no grupo você também 😉
Guilherme Petro
Jornalista, cozinheiro e professor de culinária, é co-autor do Prato Firmeza – Guia Gastronômico das Quebradas e cria conteúdos sobre alimentação consciente e acessível. Acompanhe mais no Instagram @guilhermespetro.
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