Os motivos pelos quais quem consome produtos de origem animal está, na verdade, tendo muito mais contato com os agrotóxicos.

Por Thais Schreiner

O Brasil vive um momento de enorme retrocesso em relação ao uso de agrotóxicos. Na contramão de países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, estão fazendo, por aqui, um projeto de lei (o PL 6.299/2002), também conhecido como o PL do Veneno, que visa aumentar a flexibilização do uso desse tipo de aditivo nas produções agrícolas brasileiras, com a liberação de novos inseticidas e dosagens. O que, é claro, tem impacto direto na saúde do consumidor e principalmente na qualidade do meio-ambiente, considerando que 75% das terras agricultáveis do planeta são usadas para pastagens e produção de ração, de acordo com dados divulgados pela publicação científica britânica Nature.

Diante dessa movimentação é normal presenciar o seguinte questionamento: ao deixar de consumir animais e seus derivados, estou mais exposto ainda a esses aditivos do mal? A resposta simples e direta é não.

Ainda que poucas pessoas saibam — e que a indústria da carne não faça a menor questão de expor esse fato — quem consome carne produtos de origem animal está, na verdade, tendo muito mais contato com os agrotóxicos do que quem só se alimenta de plantas, independente de estas serem orgânicas ou não. Isso porque o plantio dos grãos, transformados em ração para alimentar o gado, feito em larga escala e nem sempre em solos apropriados para isso, é rico em agrotóxicos que, posteriormente, vão parar dentro do organismo do animal que será abatido e consumido.

E isso não é pouco: segundo dados divulgados em relatórios da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), 79% da proteína vegetal no Brasil é destinada para a alimentação do gado. Nesse cenário, “cerca de 70% do milho produzido destina-se à alimentação animal”, padrão que se repete no que se refere ao consumo da soja produzida em território nacional, transformada em ração animal. E tem mais: no caso específico dos grãos, os agrotóxicos presentes neles ficam retidos na gordura de vacas, bois, porcos e outros bichos, processo conhecido como bioacumulação. A longo prazo, o consumo desses aditivos do mal pode motivar o surgimento de diversos tipos de câncer, infertilidade e alterações de órgãos vitais, como coração e rins, além de doenças degenerativas e mentais.