Com abraço e quentinho no coração em forma de comida, o espacinho no Sumaré consegue nos transportar para o nosso lugar mais aconchegante por meio do paladar.

Sempre quis comer um brunch fora de casa. Do inglês, é o nome dado àquelas refeições que unem o café-da-manhã com o almoço (breakfast + lunch = brunch), geralmente aos finais de semana. Quer conta mais aconchegante ao estômago? Nada como acordar tarde em um sábado após uma semana cansativa de trabalho, ou num domingo de ressaca sem a preocupação em perder a leveza da primeira refeição do dia, e ainda ter a possibilidade de já emendar as delícias do almoço. Sem falar como ainda soa chique: “Vamos comer um brunch hoje?”.

Enquanto isso, o Vaca sempre esteve dando as caras na timeline do meu Instagram. Pães, bolos, tortas e carolinas foram, aos poucos, construindo um banquete completo no imaginário da minha boca. Foram meses de paquera até que decidi, em um final de semana preguiçoso, realizar os dois desejos de uma vez: “Que tal um brunch no Vaca hoje?”.

A casinha (literalmente) fica em uma rua tranquila no bairro do Sumaré. O portão de garagem que num primeiro olhar pode nos fazer perguntar “será que é aqui mesmo?” já logo anuncia nas discretas e poéticas palavras o nome e o significado do que existe ali: 

Vegan •
Authentic •
Cuisine •
Atelier •

“É aqui sim!”, penso, logo antes de olhar para a famosa plaquinha preta do Instagram, que sempre tem alguma mensagem fofa escrita. Naquele dia, era pra não restar qualquer dúvida: “Tudo vegan e feito por vegans lindxs”. Só resta entrar.

Foto: Victor Daguano

Ao subir as escadas e encontrar o pequeno salão adaptado dentro de uma sala residencial, parece que estamos fazendo uma visita a alguma pessoa querida. A varandinha, de cara pra rua, complementa a sensação. E, depois de ver e acariciar os cachorros dos clientes (o espaço é pet-friendly) e ouvir o som do canto da maritaca que mora no telhado, já podemos nos sentir dentro do nosso próprio lar.

Mas é na comida que o sentimento familiar toma conta. Quem é vegano sabe como a transição pode ser difícil quando começamos a “abrir mão” de pratos que comemos durante a vida toda, especialmente no que diz respeito aos doces da nossa infância. Pelo menos comigo foi assim. Ver um cinnamon roll no cardápio e não se preocupar em perguntar quais são os ingredientes só não dá mais quentinho no coração do que quando ele chega imponente com a sua enorme coroa de chantilly e enche a nossa boca com aquela massa macia com gostinho de canela. O que dizer então do misto quente, ou do pão de queijo (que aqui é feito à base de mandioquinha e batata)? O toque da chef e proprietária Kamili Picoli consegue evocar familiaridade e trazer novas sensações ao mesmo tempo.

Isso se reflete também nos pratos principais. O perfumadíssimo risotto de pêra com tomilho e o gnocchi na chapa, que mais parecem as próprias batatas bolinha, acompanhado de tomate cereja e cogumelos mostram como toda hora é hora boa de ir ao Vaca, seja pela vontade de café da manhã, de almoço, de brunch, de sobremesas… Para acompanhar, o leve chá da casa e a sua refrescância caiu muito bem com o calor que fazia naquela tarde, além de limpar o paladar para as próximas mordidas.

É tanta coisa que uma visita não é suficiente para provar tudo que o cardápio tem a oferecer. Que bom, pretextos para voltar não faltam! Uma sugestão que a própria (e simpática) equipe dá é a do menu degustação, que serve um pouquinho de tudo que a padaria tem de melhor. São doces e salgados servidos em três andares de um suporte fofo que lembra festa de criança. Recentemente, passaram a fazer também o “café abolicionista”, uma releitura do café colonial. De terça a quinta, das 17h às 19h, é possível comer à vontade, por um preço fixo, todas os clássicos do cardápio e criações exclusivas.

Pra fechar com chave de ouro, além do cafézinho coado, sempre há um espacinho para a sobremesa. Quase webcelebridades nas redes sociais, os chamados FreakShakes ocupam boa parte do cardápio, então merece destaque. À base de leites vegetais, acompanham guloseimas como doce de leite, chocolates, cookies, avelãs banhadas em chocolate, chantilly e até mesmo carolinas que, unidas aos sorvetes e decorações, viram obras de arte culinárias daquelas que dá vontade de exibir no Instagram.

Provei o super refrescante e equilibrado Lemon Heaven, com sorvete de limão siciliano, leite de coco, chantilly e raspas de limão, com uma combinação simples que funciona muito bem, e o Golden Caroline, com sorvete de doce de leite, chantilly, chocolate meio-amargo derretido, carolinas e pó de ouro (!!!). Coisa fina, não dá pra dizer outra coisa pra definir.

Com tantas novidades, sabores e técnicas meu lado jornalista-técnico-cozinheiro ficou bem curioso para saber detalhes e outros segredos de cada preparo em cada coisinha daquele brunch, como um bom profissional deve ser. Mas permitam-me pedir aqui uma licença quase poética, pois naquela tarde, por um dia, me permiti deixar simplesmente realizar um desejo pessoal e ser levado pela mágica.

No entanto, não se preocupem, pois a expressão da “mágica que nunca revela seus segredos” não se aplica aqui, Muito pelo contrário, o ateliê está sempre abrindo novas turmas para cursos de pães, doces e salgados, ensinando a fazer tudo aquilo que a gente aprendeu a amar no cardápio. Assim, sem cerimônia, como quando a gente vai comer na casa de um alguém que a gente gosta e se sente bem.


Vaca Ateliê Culinário
Avenida Prof. Alfonso Bovero, 323 – Sumaré – São Paulo, SP
Contatos: (11) 97169-9156 | [email protected]
Horário de funcionamento: terça a sábado das 10h às 19h; domingo das 10h às 16h
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Guilherme Petro

Jornalista, cozinheiro e professor de culinária, é co-autor do Prato Firmeza – Guia Gastronômico das Quebradas e cria conteúdos sobre alimentação consciente e acessível. Acompanhe mais no Instagram @guilhermespetro.